Permitir-se sentir medo, isso é coragem

22/01/2013 11:29

 

NÃO IMPORTA MUITO O QUE DIGA o dicionário, a verdade é que damos às palavras um sentido subjetivo, ancorado na idéia que fazemos de uma determinada coisa. Pense, por exemplo, na palavra coragem. Difícil não associá-la a cenas de bravura e valentia protagonizadas por guerreiros altivos e conquistadores audaciosos. Coragem, no entanto, não encontra seu verdadeiro sentido em atos heróicos destemidos, como sugerem nossos registros internos.
A palavra, que tem sua origem no francês courage, significa agir com o coração. E que coração não teme mudanças, desafios e riscos? O meu teme e acredito que o seu não seja diferente. Ainda bem, porque é justamente aí que nasce a coragem, nessa capacidade de sentir medo, reconhecê-lo e mesmo assim seguir em frente. Parece contraditório? Não, se pensarmos que atirar-se nas coisas sem considerar seus riscos é inconseqüência, indiferença e outras palavras bem distantes da coragem – no dicionário, inclusive.
A palavra coragem (courage, em francês) significa agir com o coração. E que coração não teme mudanças, desafios e riscos?
Esta nossa conversa me faz lembrar um trecho curioso do romance Moby Dick, do escritor americano Herman Melville, que vou tentar reproduzir aqui. Na manhã em que iriam zarpar, o capitão Ahab fez um discurso para a tripulação do navio Pequoad. Falou dos perigos do mar, dos riscos da caçada, do colossal monstro dos mares que iriam enfrentar e da solidão. Antes de terminar, pediu: “E os muito corajosos, por favor se retirem. Não vou admitir em meu barco nenhum homem que não tenha medo de baleia”.
a história nos faz refletir sobre a quantidade de medo necessária para que tenhamos coragem. O capitão queria em sua tripulação pessoas de verdade, que temessem os perigos que viriam e não seres indiferentes ao que se passaria à sua volta – mais precisamente no seu coração, retomando a raiz da palavra coragem – pois estas certamente voltariam da viagem coroadas pela virtude da coragem. Procure lembrar-se dos momentos em que você seguiu sua intuição e foi em frente mesmo com um assustador frio na barriga.
Ouse perguntar: qual a coisa mais corajosa que eu já fiz? Quando decidi, tive medo? Reflita sobre o assunto e, se possível, pergunte às pessoas à sua volta como elas lidam com a própria coragem, como encaram a si mesmas. Você vai descobrir que o medo faz parte da vida, e que sem ele não haveria coragem. Encontrar os próprios significados de cada virtude ou defeito é um exercício vagaroso e, por vezes, difícil. Mas que vale muito a pena considerando que a recompensa é nada menos do que o encontro consigo mesmo.
Descubra a sua coragem
Afirmação Matinal: “coragem é a capacidade de reconhecer o medo e ainda assim seguir em frente.”
Questione: “que coração não teme mudanças, desafios e riscos?” Faça uma lista das coisas que gostaria de fazer mas não tem coragem. Reveja cada uma delas procurando aceitar os medos que elas provocam.
Diário Noturno: escreva ou medite como tem sido pensar sobre a coragem como uma superação saudável do medo. Aceitar seus temores e trabalhá-los conscientemente tem aproximado você dos seus objetivos?

Publicado na Revista Estilo Natural